sábado, 9 de abril de 2011

CODIGO DIVINO


Um estudo sério caracteriza-se pela continuidade, conforme explica Allan Kardec na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita.




O espírita, apoiado no estudo, avesso ao comodismo, não se assombra diante das constatações da História ou das descobertas da Ciência. Suas bases doutrinárias têm como alicerce a fé raciocinada que indaga, procura e avança constantemente.



Nas últimas décadas, o público tem acesso, por meio de livros e reportagens, a temas inquietantes, embora não sejam novos, pois imersos nos registros históricos. Em tal quadro se destaca a abordagem dos textos ditos apócrifos, muitos deles sem dúvida enriquecedores, na busca de se traçar um perfil do Filho do Homem. No entanto, perfis são naturalmente redutores e o Mestre de Nazaré transcende o que Dele se julga conhecer.



Recentemente se redimiu Judas, como se ele disso precisasse. A Lei de Deus é perfeita e nada existe por acaso. A Doutrina Espírita, por sua vez, jamais “malhou o Judas”. Ao contrário, temos páginas mediúnicas, a respeito do controvertido discípulo de Jesus, que encerram profunda beleza. E os estudos sobre sua função no projeto divino já existem há bastante tempo.



Vejamos, de outro aspecto, a polêmica criada em torno do livro de Dan Brown (2003), O Código Da Vinci. Seguindo a tradição dos romances policiais, o autor parte de um crime e do envolvimento das personagens como pano de fundo para mergulhar em um mundo marcado de suposições e revelações sobre a figura de Jesus. No desenrolar da trama, há a postura da Igreja a respeito do “dito e do não dito”, suas organizações, como a Opus Dei, além da existência de sociedades secretas criadas para guardar ensinamentos e informações convenientemente rejeitadas pelo poder religioso.



Há, sem dúvida, um fundo de veracidade. Sociedades secretas sempre existiram, disfarçando posições filosóficas e políticas. Porém, o livro referido é obra ficcional, um romance, com enredo e redes tecidas pela imaginação.



Ora, uma obra literária, sendo aberta, é passível de leituras diversas. Façamos a nossa. No diálogo do livro indicado, que mistura literatura e história, há a denúncia, através dos “sinais” deixados por Da Vinci na Santa Ceia, do punhal da traição da Igreja aos ensinamentos de Jesus em essência e a ocultação de importantes dados da vida e obra daquele a quem chamamos o Cristo. Eis o que o código revela e esconde.



As ilações daí emanadas e as aventuras da narrativa têm, em certos pontos, comprovação histórica, mas, em outros, não. Além da traição da Igreja, o que mais incomoda? A possibilidade, sem fundamentação documental, de Jesus haver se casado e, conseqüentemente, ter deixado uma linhagem. Mas, independente de dados biográficos, não comprovados, a verdadeira família do Mestre é a daqueles que “fazem a vontade do Pai”, expressas nas leis naturais da harmonia cósmica. É o que importa.



Ao espírita que sabe disso, nada abala. Sua fé, alicerçada na razão e alimentada pelo estudo constante, encara com desassombro essas novidades, na verdade, tão antigas. Especulações sobre a vida de Jesus sempre existiram. Ao tempo de Kardec, sabia-se o suficiente para que o Codificador selecionasse dos Evangelhos, inspirado pelo Espírito de Verdade, apenas os ensinamentos morais, descartando as demais partes, geradoras de polêmica e dúvida. Busquemos o primeiro parágrafo da introdução ao Evangelho segundo o Espiritismo: “Podem dividir-se em cinco partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento de seus dogmas; e o ensino moral. As quatro primeiras têm sido objeto de controvérsias; a última, porém, conservou-se constantemente inatacável. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva.” (1)



Conclui-se da advertência do Codificador que apenas os ensinamentos morais de Jesus, resistindo aos ventos impuros da corrupção, atestam Seu lugar de guia e modelo de toda a humanidade, enquanto porta-voz do código divino.



Por isso, as pesquisas isentas de compromissos religiosos, que podem ser comprovadas ou não no futuro, ao gerarem inquietações, são de qualquer forma saudáveis porque abalam dogmas limitadores da grandiosidade da Boa Nova. Afinal, quem não indaga não obtém respostas. Quem não procura não acha.



Na verdade, temos visto que o Espiritismo está cada vez mais atual, pois agrega perguntas e respostas, hoje apresentadas como grandes novidades. O espírita que lê, tem acesso ao saber, pois sua fé tem base na razão.



Mas, de outro lado, nem todo espírita desenvolveu ainda a prática do estudo constante e, por isso, temos os “assombrados”. Se o leitor aí se enquadra, desassombre-se, pois Jesus se basta.



Enfim, acima do desenredo das letras, lendas e mitos, ecoa a voz que atravessa os séculos: “Passará o céu e a Terra, mas minhas palavras não passarão.” Falou o Filho do Homem a traduzir como Filho de Deus as Leis Morais, nada secretas, porque escritas na consciência. Eis o grande código. Curve-se a incredulidade diante dele, à luz do Espiritismo, que nos revela pela razão a sua origem divina.



Rita Côre



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